Sobre a dor do parto

Elsa Villon
2 min readOct 23, 2023

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Química era a segunda disciplina mais odiada em tempos de colégio. Simplesmente não ía. Fiz o suficiente para passar com B (minha mãe era exigente), mas simplesmente não me aprofundei em nada.

A vida se encarregou disso, com os episódios depressivos. Tive que aprender a química dentro da biologia (essa sim a disciplina mais odiada). Entender que tudo o que estava sentindo era falta de serotonina e que a culpa não era necessariamente minha.

Superada a falta de serotonina, vieram os hormônios desregulados. Em termos clínicos: disforia pré-menstrual. Sintomas de TPM o mês inteiro, fadiga, irritabilidade, vontade de roer o pé da mesa de raiva. Entender que a culpa não é sua não facilita as coisas, mas já é meio caminho andando.

Coloca o DIU para regular os hormônios. Uma dor horrível que eu não pretendo passar de novo na vida, alguns sangramentos de escape e cá estamos há sete meses sem os sintomas da disforia. Ponto para a ciência.

Mas hoje, em especial, eu acordei esquisita. Esquisita como me sentia deprimida e esquisita como me sentia na com a disforia. Sei que não é nenhuma das duas possibilidades, pois a medicação, a terapia e os hormônios estão aí, em dia.

Acordei com uma angústia gigante no peito, uma vontade de chorar que não tinha explicação óbvia. Não aconteceu nada, está tudo bem. Simplesmente uma tristeza profunda que foi suavizada chorando por exatamente três minutos (eu contei).

Não lembro em qual emprego foi, mas surgiu, certa vez, o assunto dor do parto. Não apenas a gestante sente dores, mas o bebê também. Que há estudos na psicanálise que observam o trauma da dor do parto refletido ao longo da nossa existência por toda a vida. Aqueles dias de melancolia profunda, sem nenhuma causa aparente, podem estar, intrinsicamente, ligados à dor do parto.

Fiquei pensando nisso. Se não não é TPM e não é depressão, se não aconteceu nada, então deve ser o trauma da dor do parto. Só resta esperar pelos próximos dias.

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